quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Como é que um partido extremista conseguiu o terceiro lugar nas eleições?

Afonso da Costa 12/02/2022

 No passado mês de janeiro, pudemos ver os surpreendentes resultados, principalmente da IL e do PS (comparando às Presidenciais), porém, o que mais assustou os portugueses foi ver o CHEGA como terceira força política (passando de um deputado, o famoso André Ventura, para doze deputados eleitos).

 Primeiro, tenho de esclarecer que não, o CHEGA não conquistou mais votos! Pelo contrário, perdeu cerca de 85.000 votos em relação às Presidenciais de 2021, apesar de ter sido o melhor resultado do partido em Eleições Legislativas.

 O CHEGA foi criado em 2019 por André Ventura, que na altura era vereador do PSD. Tem como ideologia uma direita radical e populista. É anti-imigração, antifeminista e contra os ciganos. É extremamente conservador, racista, xenofóbico e homofóbico. O que pretendo analisar aqui é: como é que o CHEGA conseguiu ser a terceira força política portuguesa e quem é que votou e porquê.

 "A nossa cor de origem é branca e a nossa raça é a raça caucasiana.". Este é um dos discursos racistas do novo deputado do CHEGA, Diogo Pacheco Amorim. É aterrorizador um discurso tão retrógrado e nacionalista em pleno século XXI.  Neste novo grupo parlamentar também consta uma pessoa muito peculiar, Rita Matias, uma mulher antifeminista! Isto é de deixar qualquer um abesbílico! Rita tem outra característica curiosa: a sua falta de criatividade; já que copiou frases inteiras do discurso de Giorgia Meloni (líder da extrema-direita italiana) no seu próprio discurso. André Ventura também não fica atrás com os discursos de ódio: “Para vir viver dos nossos impostos, já temos cá muitos, não precisamos de mais.". Isto chama-se populismo, para muitos não passa de paleio discriminatório, mas na verdade, é esse tipo de frases que o povo quer ouvir. O povo identifica-se com André Ventura, porque sente-se injustiçado por trabalhar ou ter trabalhado a vida inteira e existirem pessoas que “vivem à custa do estado”. Atenção, o populismo não é só usado pelo CHEGA, também é usado no Ergue-te (antigo PNR), PCTP-MRPP, no PCP, no Bloco de Esquerda,… são inúmeros os casos. O CHEGA apresentou maiores resultados no interior, principalmente no Alentejo, onde a taxa de alfabetização é menor e a população é mais envelhecida. Agora imaginem um idoso que não sabe ler nem escrever, que foi agricultor a vida toda e, de repente, aparece alguém que diz que o dinheiro dos impostos dele vai para imigrantes que não precisam e que não querem trabalhar, é natural que esse idoso se revolte e apoie esse alguém, apesar de não saber ao certo no quê que está a votar. Outro motivo é que as pessoas mais velhas têm uma mentalidade mais fechada, é evidente que essas pessoas não aceitam tão bem as diferenças dos outros. Um facto engraçado é que o CHEGA conseguiu “roubar” votos aos partidos comunistas nessas zonas, eu acredito que tenha sido porque esses mesmos partidos têm, à frente das câmaras, defendido as minorias (ambos sabemos que não é bem assim), e essa falta de discursos populistas fizeram uma diminuição do número de votos.

 Outro motivo para as pessoas terem votado no CHEGA é o bem conhecido “voto de protesto”, basicamente consiste em votar num partido mais excêntrico para mostrar a indignação com o governo ou certos candidatos apresentados pelos grandes partidos. Na minha visão, este governo do PS foi péssimo: milhões gastos em empresas à beira da falência, grande esforço fiscal, preço dos combustíveis enormes, SNS desastroso com pessoas a morrer com falta de tratamentos,… por isso, eu compreendo o porquê dessas pessoas votarem no CHEGA.

 O último motivo é, de facto, a existência de pessoas racistas, homofóbicas, xenofóbicas (em geral, fascistas). Infelizmente, há e sempre haverá quem pense de forma errada e não consiga aceitar as diferenças dos outros. Pessoas que sentem ódio quando passam por um estrageiro na rua. Pessoas que se sentem incomodadas quando veem um cigano. Pessoas que sentem nojo de homossexuais. A discriminação existe e sempre existirá. 

 Aqui consegui mostrar que quem vota no CHEGA ou, devido à sua ignorância, é induzido a votar nesse partido por discursos populistas ou vota para se manifestar ou é, realmente, fascista.

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