segunda-feira, 9 de junho de 2025

O mundo perfeito

Afonso Viana da Costa   09/06/2025

 E se toda a tristeza desaparecesse? E se toda a pobreza desaparecesse? E se até a mais ínfima imperfeição desaparecesse? As redes sociais são a desconstrução do mundo como o conhecemos (ou conhecíamos) e a sucessiva construção dum lugar desumano, sem espaço para sentimentos, onde apenas existe a perfeição.

 A democratização da comunicação vivenciada no século XXI mudou as sociedades. A vida viu-se facilitada com a praticidade e utilidade dos telemóveis e computadores. Os benefícios são inegáveis. Mas como tudo neste nosso planeta equilibrado, não é perfeita. As oportunidades que as novas tecnologias criaram foram rapidamente potencializadas e todos aqueles que convivam com outrem sofreram imensas mutações nos seus quotidianos. Uma delas foi a ascensão das redes sociais, a forma preponderante de comunicação contemporânea, que, por serem tão populares e imersivas, são refúgios diários de milhares de milhões de utilizadores.

 Por um lado, são um elo de ligação com os nossos entes queridos, mais importante com os mais distantes, fomentam a criação de amizades e são um meio de entretenimento e de informação, se forem bem utilizadas, isto sem ser necessário sair de casa. Por outro, são extremamente distrativas, ocupam imenso tempo, são viciantes, e limitam o contacto interpessoal.

 Porém, se afundarmos no pântano que é as redes sociais, encontramos uma realidade muito mais assustadora. Os humanos que habitam os posts são uma espécie completamente distinta da nossa. De vidas perfeitas, roupas, carros e viagens caras, peles lisas, boa luz, poses provocadoras e sorrisos estão cheios os servidores. Não há tristeza, não há problemas. Só beijos, abraços, relações perfeitas, sem quaisquer desentendimentos e zangas normais. Comida? Só saladas e sandes de abacate, não pode haver a comida de plástico banal que o ser humano moderno consome. Amizades, mas só nas fotos. As redes são um mundo utópico isolado, onde a humanidade está extinta, apenas habitado por alter egos perfeitos com vidas perfeitas. Tudo máscaras para disfarçar a mesquinha e insignificante vida das massas. Pessoas que precisam de criar uma ilusão de superioridade, quase transcendentes. Uma oportunidade para o comum mortal se tornar o desejo alheio tão ambicionado. Uma imagem falsa de uma pessoa verdadeira, imperfeita, viva.

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